Madeira tem má estratégia ao nível dos novos canais de distribuição
Data: 08-05-2010
António Loureiro, Director-geral da Travelport Portugal e Brasil veio ontem ao Funchal mostrar à evidência que a Madeira não existe na Internet e que nenhum motor de busca consegue associar o destino a um produto específico, como seja o turismo de praia, natureza, família, golfe e desporto, etc.
Numa intervenção enquadrada por uma tema - novos modelos de distribuição - de grande relevância para a Madeira, este especialista mostrou que os turistas encontram na internet (79%) a informação que necessitam para decidir o seu local de férias, com a opinião de amigos e familiares (17%) a ser mais importante que as brochuras (17%) ou outros tipos de publicidade.
Chamando à atenção que a informação através da rede não está só disponível no computador, surgindo nos telemóveis e em outras plataformas, Loureiro alertou, também, para o papel que as redes sociais estão a ter na divulgação, garantindo, mesmo, "que é obrigatória a presença na Madeira e a criação de um grupo de amigos".
Numa afirmação que deve preocupar todos os responsáveis pela política do sector, o especialista garante que a Madeira "não tem visibilidade electrónica", conclusão a que chegou depois de ter feito várias pesquisas em motores de busca, que associavam 'ilhas para férias' a ilhas como Caimão, Galápagos ou Cabo Verde, nunca surgindo o nome da Madeira em nenhum dos produtos turísticos.
O responsável pela Travelport foi mais longe e mostrou uma pesquisa feita no Skyscanner, em que Faro (5.º) e Lisboa (30.º) surgiram entre os primeiros cinquenta destinos, com todas as ilhas espanholas incluídas, não havendo qualquer referência à Madeira.
Site do Turismo desactualizado
Numa análise aos conteúdos existentes na internet que associam a Madeira, o orador mostrou imagens pirosas e desadequadas da realidade e do produto que vendemos, concebidas por operadores ou outros agentes estrangeiros, concluindo a sua intervenção com uma subtil crítica à forma como o Turismo da Madeira vê o papel da internet.
Assim, em vez do site institucional estar a anunciar com toda a força o Festival do Atlântico, mantém como mensagem preferencial a Festa da Flor, que já passou, acrescentando nós que os dados estatísticos da actividade não são actualidades desde Agosto do ano passado.
Na qualidade de moderador, Ricardo Gonçalves (Director da Deloitte) deixou dados nacionais sobre a evolução moderada das receitas e mais acentuada dos custos, que cresceram de forma gradual nos últimos dez anos, enquanto que a produtividade baixou, estando hoje ao nível de 2001. Aliás, pior do que nós só a Itália, México e Eslováquia, acrescentando que Portugal tem a prior produtividade dos países da OCDE ao nível do turismo, registando que no sector financeiro e segurador o país é o terceiro melhor ao nível da produtividade.
AUSÊNCIAS LAMENTÁVEIS
A inciativa de promover uma conferência sobre turismo até mereceu o apoio da Secretaria do Turismo e Transporte, que organizou uma exposição sobre a evolução dos suportes promocionais. Mas ninguém ficou indiferente à saída abrupta de Conceição Estudante, a ausência da Directora Regional de Turismo ao longo da tarde, não se compreendendo que a presença não fosse obrigatória para todos os profissionais dos departamentos governamentais ligados ao sector, o que leva a constatação que as delegação a feiras externas são mais numerosas do que a presente no Casino.
João Welsh: Madeira gastou fortuna para apagar referência mais internacional
O madeirense João Welsh foi convidado para comentador deste painel e no seu estilo peculiar foi corrosivo. Potenciando as palavaras dos oradores que o antecederam, defendeu a autenticidade do produto como factor diferenciador e uma mais valia, o que o levou a censurar a artificialização da costa, a transformação das praias de calhau em areia amarela ou a instalação de barracas na via pública, imagem que conflitua com o destino de excelência com as entidades apresentam a Madeira.
Recuperando a sua batalha de que os destinos concorrentes investem mais dinheiro do que a Madeira na promoção - os Açores gastam 1.000 euros por casa, a Região 350 - Welsh diz que estamos a vender um produto que não é coerente, discordando que a palavra excelência seja usada para vender, quando o que deveria ser usado é a marca, o produto e o posicionamento da Madeira nos mercados.
Perguntando se todos os que têm responsabilidades sabem o que nos diferencia da concorrência, qual é o público-alvo e os mercados que interessam, o agente conclui que não temos um focus.
Para João Welsh é preciso quantificar o retorno o retorno ao investimento feito, razão pela qual denunciou que em 1999 por cada euro investido havia um retorno de 136, valor que este ano é de apenas 22 euros.
Numa intervenção muito incisiva, o responsável na Madeira pelos balcões da TOP Atlântico historiou os diferentes logos e mensagens institucionais do Turismo da Madeira ao longo de meio século, fazendo ironia com a fortuna que a Região gastou para substituir a designação 'Pérola do Atlântico' por 'Jardim do Atlântico', 'Sinta a natureza à sua volta' ou mais recentemente "Body Mind Madeira', querendo obrigar os turistas a esquecer a designação que é mais usada nas referências à Madeira.
Miguel Torres Cunha (DN)
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