O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais admitiu ontem, no seminário que decorreu no auditório da RDP-Madeira sobre a “protecção Civil e Bombeiro: desafios para o futuro”, que «é importante, de uma vez por todas, se pense e se repense a intervenção dos meios aéreos e de tudo aquilo que tem a ver com os incêndios florestais».
Ainda no rescaldo dos incêndios que assolaram a Região no último mês de Agosto, Fernando Curto disse que «é preciso sermos realistas e fazermos uma avaliação técnica daquilo que tem a ver com estes meios aéreos», justificando a sua posição com o facto de a Região «ser uma ilha com tipologia específica e que tem grande parte da sua florestação é reserva natural». No seu entender, «se tivermos um incêndio onde os bombeiros não podem ir só temos duas hipóteses, ou deixamos arder ou recorremos aos meios aéreos».
«Daí que achamos importante repensar tudo isto, não numa perspectiva política mas numa perspectiva de ajuda e de relação operacional no terreno com os bombeiros e com os meios que a Protecção Civil e os serviços municipais de protecção civil empreendem quando acontecem estas situações», explicou o responsável, admitindo não querer «levantar polémicas» mas sim ser o mais «realista possível».
Fernando Curto, que presidiu à abertura deste seminário que contou com vários oradores convidados, lamentou apenas a ausência do comandante dos Bombeiros Municipais do Funchal, justificando que a sua presença teria sido uma mais-valia para este encontro.
É preciso maior articulação entre médicos e bombeiros
Para Eugénio Mendonça, coordenador do Serviço de Emergência Médica Regional do Serviço Regional da Protecção Civil da RAM e que ontem falou sobre o Sistema Regional da Protecção Civil e a Emergência Médica na Região, é preciso que haja uma maior articulação entre os médicos e os bombeiros na hora em que é feito o socorro à vítima. Segundo este responsável, esta é uma questão que tem vindo a ser trabalhada por parte da Protecção Civil e, «numa altura em que as pessoas procuram ser pouco racionais em algumas intervenções», defende que «o diálogo, com rigor, é fundamental para conseguirmos ultrapassar as limitações que obviamente existem». Além disso, acrescentou, «precisamos acima de tudo respeitar as funções técnicas uns dos outros, procurar harmonizar os nossos conhecimentos para a população».
A corroborar esta opinião, Fernando Curto, da ANBP, focou a importância de haver uma articulação muito maior que passasse sobretudo pela realização de exercícios, com mais regularidade, porque «é daí que advém a correcção de situações de ligação». Sobre este assunto o presidente da ANBP adiantou que este não é uma lacuna que existe apenas na Madeira mas também em todo o território nacional.
«Sistemas de alerta não chegam por si só»
Segundo o professor universitário, Domingos Rodrigues, convidado pela ANBP para falar neste seminário sobre os fenónemos naturais, ordenamento do território e sistemas de alerta precoce, «antes dos sistemas de alerta é preciso que as pessoas saibam quais são as atitudes certas a tomar nestas situações difíceis». O docente na Universidade da Madeira exemplificou com os acontecimentos do passado dia 21 de Outubro. «No pico da precipitação, entre as 13 e as 14 horas, foi também o pico de trânsito. Ora, isso é tudo o que não se deve fazer. É um bom exemplo de uma extrema vulnerabilidade. As pessoas têm de perceber que é preferível ficar em casa, a não ser que residam em zonas de risco, deixarem os filhos nas respectivas escolas do que arriscarem sair», aconselhou o professor, acrescentando que o grande volume de tráfego que se verificou àquela hora nas saídas da cidade demonstrou «que nós não estamos ainda preparados» para uma situação de catástrofe.
PSP acaba por ser «força omnipresente»
Como «agente de protecção civil», a Polícia da Segurança Pública (PSP), que ontem esteve representada pelo comissário Roberto Fernandes no encontro da ANBP, acaba por ser, em articulação com os restantes serviços, «uma força omnipresente». De acordo com o comissário «as medidas da polícia são de facto essenciais para repor a normalidade, prestar apoio e socorro às vítimas e ainda manter os níveis da segurança». Recordando a experiência, apesar de trágica, de 20 de Fevereiro, Roberto Fernandes admite que a situação ajudou a estreitar as relações, a aproximar os vários sistemas e a haver uma articulação muito mais próxima entre todos os serviços da Protecção Civil. (JM)
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