Em declarações à agência Lusa a directora dos serviços de Património Cultural da Madeira, Diva Freitas, diz que a recuperação da Sé da capital madeirense será a "obra do século" na região.
A construção, com "vários elementos especiais, casos do retábulo, único da época em Portugal, e o tecto de alfarge ou mudéjar, sendo uma das catedrais com maior dimensão com um tecto desta época e técnica", salienta.
"Esta igreja tem duas épocas: é gótica na sua planta mas tem o manuelino e o renascimento, toda a decoração no meio dos frisos do tecto alfarge (feito com madeira da ilha, o que é especial porque nesta época apareciam de pedra), é pintada com motivos renascentistas, elementos mitológicos, figuras", explica.
Relativamente ao tecto "falta ser limpo" dos resíduos do fumo das velas depositado ao longo dos anos e "quando for recuperado o interior, vão sobressair as cores e vai ganhar um novo esplendor".
Diva Freitas afirma que "desde 2000 até agora foram gastos cerca de 1,5 milhões de euros nesta igreja em diversas obras", realçando que estes projectos de recuperação têm o apoio "essencial da WMF, sendo intenção e interesse da associação apoiar a recuperação da igreja num todo".
Sobre o restauro do tecto, a restauradora-conservadora da direcção regional dos Assuntos Culturais, Carolina Ferreira, sustenta que "terá de ser essencialmente um trabalho de limpeza".
Esta operação "terá de ser metódica, para não tirar demasiado e conseguir perceber o que está a nível etnográfico e ter leitura uniforme dos elementos", essencialmente os grotescos, influência do renascimento, da antiguidade clássica, vegetalistas, de heráldica (armas de D.Manuel, a esfera armilar e cruz de Cristo).
Depois deste trabalho, aquilo que agora é apenas escuro, permitirá ver a riqueza do colorido porque predominam "os vermelhos, verdes, alguns azuis, o amarelo, o ocre em algumas zonas parece ser ouro".
A intervenção poderá durar mais de um ano e meio, sendo necessária uma equipa com cerca de 10 restauradores.
Como a Madeira não dispõe de um número suficiente de técnicos para uma obra desta dimensão terá de recorrer a especialistas nacionais, refere.
Diva Freitas declarou ainda que o trabalho de recuperação do tecto depende das orientações técnicas da WMF, adiantando estar definido que "a seguir aos trabalhos do exterior, a primeira intervenção será o restauro do retábulo, o único desta época manuelino ainda "in sitio" no país, que é muito bonito, com a talha dourada manuelina e os painéis de influência flamenga que são referenciados como dos melhores a nível nacional".
"A expectativa é que as obras comecem no início do próximo ano", estima.
Mesmo sem os trabalhos estarem concluídos, garante que "neste momento a Sé do Funchal já é uma referência. É muito bonita, diferente e única no país".
(DN Madeira)
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