O transbordo da ribeira de Santa Luzia, em consequência das fortes chuvas registadas na madrugada de ontem, inundou novamente a Avenida do Mar, pondo em causa a manutenção do aterro à entrada do porto do Funchal.
A estrada de acesso ao centro do Curral das Freiras continua intransitável, devido ao deslizamento de terras e à queda de pedras nas vias de circulação automóvel sobranceiras àquela freguesia do interior da Madeira. Igualmente encerradas ou com transito condicionado encontram-se várias estradas da ilha, nomeadamente na Encumeada, Porto da Cruz e Santo da Serra, onde prosseguem os trabalhos de desobstrução e remoção de lamas e de outros detritos coordenados pelo Serviço Regional de Protecção Civil, com recursos do Governo Regional e das respectivas autarquias.
Com habitações e viaturas destruídas, o sítio da Capela, na zona baixa do Curral das Freiras, encontra-se irreconhecível devido aos estragos provocados pelas pedras, lama e entulho que obrigaram a que a escola da Seara Velha e o seu pavilhão fossem encerrados. O transbordo da ribeira provocou ferimentos em duas pessoas e danificou algumas casas, cujos moradores foram já realojados. Segundo o presidente da junta, a população - que havia elaborado um abaixo-assinado a alertar para o perigo em que se encontrava a estrada regional - está indignada com a inércia da Secretaria do Equipamento Social, que não procedeu atempadamente à remoção dos detritos.
As chuvas intensas que caíram na madrugada de ontem na Madeira, acompanhadas de fortes ventos e trovoadas, causaram várias inundações na Baixa da Ribeira Brava e do Funchal, onde a destruição de uma conduta está a condicionar o fornecimento de água potável às zonas altas de Santo António. Ainda na capital madeirense, devido ao transbordo da ribeira de Santa Luzia, a Praça da Autonomia voltou a ficar inundada, mas os serviços camarários procederam imediatamente à limpeza da Avenida do Mar, onde o trânsito esteve interrompido de manhã, durante algumas horas.
Mais grave é a obstrução da foz desta ribeira, que ficou, mais uma vez, obstruída junto ao aterro onde foram depositadas pedras e lamas do temporal de 20 de Fevereiro, que fez 42 vítimas mortais. O geógrafo Raimundo Quintal não tem dúvidas de que o aterro está a obstruir a foz das duas ribeiras, a da Santa Luzia e de João Gomes, e acusa de "incompetência quem gere o litoral da Madeira e teima em deixar este aterro" à entrada do porto do Funchal.
"Houve e há obstrução da foz da ribeira feita pelo aterro e o pior é este ciclo vicioso com os camiões a retirarem das ribeiras as pedras trazidas pelo caudal e a colocar no mesmo aterro", critica Quintal, lembrando que, há um mês, a Avenida do Mar ficou inundada, com graves prejuízos para o comércio da marginal. "Como as serras ficaram, depois dos incêndios do Verão, e com este aterro, não é preciso haver metade da precipitação de 20 de Fevereiro para ter as ribeiras a transbordar", alerta. O próprio vereador da Câmara do Funchal, Henrique Costa Neves, reconheceu recentemente que as inundações registadas nas ruas da Alfândega, dos Tanoeiros e no Largo dos Varadores estão relacionadas com a influência do aterro no descarregador de tempestades. Por esta razão, a autarquia já colocou uma máquina no local para abrir a saída da estrutura que estava bloqueada pelo material depositado a 20 de Fevereiro.
O Governo Regional anunciou que vai utilizar o depósito dos detritos do temporal do 20 de Fevereiro para criar uma zona de lazer com área acostável para cruzeiros. Neste momento está a ser utilizado, sem o necessário licenciamento do Instituto Nacional de Aviação Civil, como heliporto de uma empresa privada.(Público)
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