terça-feira, 5 de junho de 2012

Agente em risco de ficar paralisado


O agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) atropelado sexta-feira à noite no decorrer de uma 'operação stop' na zona da Eira do Serrado, corre o risco de ficar paraplégico devido aos graves ferimentos que sofreu na coluna.Nélio Alves, de 36 anos, continua internado no Hospital Dr. Nélio Mendonça, a recuperar dos ferimentos. O estado é estável, mas as mazelas sofridas inspiram muitos cuidados. Uma das pernas, que ficou presa no rodado da motorizada, sofreu esfacelamentos estando a equipa médica hospitalar a tentar evitar a amputação.

A vítima, pai de dois filhos, um de sete anos e outro com poucos meses de vida, sofreu múltiplas fracturas pelo corpo, algumas expostas, provocadas pelo atropelamento ocorrido por volta das 20 horas de sexta-feira.

O homem, agente principal, ingressou na PSP em 1996, exercendo sempre funções na esquadra de Câmara de Lobos, concelho onde reside. Sexta-feira era mais um dia de trabalho. Ele e outros agentes montaram uma operação de fiscalização nas imediações da entrada do túnel do Curral das Freiras, quando, cerca das 20 horas, um motociclista de 24 anos desrespeitou o sinal de paragem. O primeiro agente, atirou-se e conseguiu escapar ao embate. Um segundo agente fez o mesmo, mas Nélio Alves terá se atirado para o lado errado, e foi colhido pela motorizada. O condutor foi projectado, mas o agente ficou preso na mota, acabando por ser arrastado mais de uma centena de metros. Bombeiros de Câmara de Lobos e EMIR estiveram no local, e condutor, que escapou praticamente ileso, foi logo detido.

Sabe-se que circulava sem carta de condução, e será presente hoje a juiz para o primeiro interrogatório judicial que determinará as medidas de coacção a aplicar.

O DIÁRIO tentou obter um comentário sobre este acidente junto do Comando Regional da PSP, mas os responsáveis consideraram que não é oportuno falar do caso.

Moldura penal: Motociclista pode apanhar de três a 12 anos de prisão

O motociclista responsável pelo atropelamento do agente da PSP, sábado à noite, na zona do Curral das Freitas, incorre numa pena de prisão de três a 12 anos. Esta é a moldura penal prevista para o crime de Ofensa à Integridade Física Qualificada (Artigo 145.º do Código Penal), que no texto, realça a "especial censurabilidade ou perversidade" do agente do crime.

O enquadramento do crime depende-se sempre da leitura que o juiz faz dos factos, mas os que já foram revelados apontam para que o jovem de 24 anos seja acusado do crime mais grave dos que são cometidos contra a integridade física. Primeiro, segundo o que diz o Artigo 132.º, existe especial censurabilidade quando o crime é cometido "tendo em vista preparar, facilitar, executar ou encobrir outro crime" ou "facilitar a fuga", o que acontece neste caso, pois o motociclista não tinha carta de condução. A vítima é um agente policial, o que de acordo com o mesmo artigo "revela especial perversidade". E, por último, o atropelamento provocou perigo de vida ao agente.

A isto, acrescem ainda os crimes de desobediência e condução sem habilitação.

Sindicato critica falta de meios

A primeira frase de Jorge Silva, presidente regional da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP), é para o agente gravemente ferido e para a família deste. "Em nome do sindicato e em meu nome, quero expressar uma grande tristeza pelo que sucedeu." A segunda, é mais dura, e é dirigida aos responsáveis pela Polícia de Segurança Pública (PSP). "Quando os agentes vão para este tipo de operações, nem sempre vão com os meios adequados", afirma Jorge Silva, responsabilizando a falta de material pelo facto dos agentes serem expostos a riscos desnecessários.

Faltam lanternas, faltam equipamentos reflectores, faltam motorizadas de apoio, para que os condutores percebam que não vão conseguir fugir. "Foi uma situação grave, que me recorde nunca aconteceu aqui na Região, mas fugas há sempre, todas as semanas, e a PSP deve estar preparada para lidar com este problema", acrescenta, dizendo que no continente já são utilizadas 'lagartas' - correntes metálicas que furam os pneus das viaturas que desrespeitam o sinal de paragem -, mas na Madeira esse equipamento não existe.

É verdade, continua, que o cidadão madeirense é cumpridor e ordeiro, mas existe uma minoria que está a crescer. "Isto, infelizmente demonstra que a nossa profissão é de risco, ao contrário do que os sucessivos governos têm dito para não pagarem o respectivo subsídio", sublinha o dirigente da ASPP, pedindo ao Comando Regional que saiba "defender o agente ferido", para evitar os "dissabores" que aconteceram no passado. DN Madeira

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