quarta-feira, 18 de maio de 2011

Os últimos paraísos

Na Madeira, as praias mais naturais privilegiam o sossego ao invés das massas, dispensando deliberadamente as grandes infra-estruturas

Na Madeira, desfrutar do sol e do mar em praias tranquilas e pouco frequentadas ainda é possível.

Embora a ilha conserve vários paraísos em estado selvagem, falamos dos calhaus com alguns equipamentos de apoio que, não sendo de fácil acesso, exibem uma grande beleza natural.

Na costa sul da ilha, sob uma falésia de aproximadamente 250 metros de altura, a praia não vigiada da Fajã dos Padres é um desses lugares cujas características seduzem cada vez mais pessoas. Tal é a procura que a fajã abriu, este ano, pela primeira vez, no período de Inverno.

Entre Janeiro e Março, o recinto acolheu cinco mil visitantes. A transparência das águas, a variedade de espécies junto à costa e a prática da agricultura biológica são atractivos desta praia que tem nos alemães os seus principais frequentadores. Mas, diz quem sabe que o sossego, a privacidade e um ambiente quase exclusivo são as grandes armas deste lugar. "A sensação de estar aqui é inexplicável, é como se estivéssemos noutro País", declara Nélson Aveiro, 'manager' do complexo.

Com um valor de entrada orçado nos 7,5 euros, a Fajã dos Padres - um pequeno paraíso privado também acessível via mar - não é uma praia para todos os bolsos.
Uma vez no recinto, os visitantes podem usufruir dos serviços do restaurante local, experimentar algumas das sobremesas confeccionadas com as espécies subtropicais ali cultivadas e pernoitar nas várias casas disponíveis para alugar .

Singular, a Fajã dos Padres tem ainda a particularidade de ser um território reclamado quer pelas autarquias de Câmara de Lobos e da Ribeira Brava, o que nem sempre é uma vantagem. "Torna mais difícil conseguirmos, por exemplo, aceder a apoios", explica Nélson Aveiro.

A ideia, diz o 'manager' da unidade turística, não é modificar o espaço ou avançar com grandes infra-estruturas. "O que precisamos é de apoio para as obras no cais de atracagem muito danificado pelo temporal". Nélson Aveiro acredita que o contributo do espaço na promoção da Madeira justificaria algum apoios das autarquias.

"É uma obra bastante dispendiosa, mas vamos tentar fazer o melhor até ao Verão", conclui.

Um teleférico no Calhau da Lapa
Para apreciar a tranquilidade e a beleza do Calhau da Lapa, no Campanário, há que enfrentar e uma descida íngreme e trilhos de difícil caminhar. Outra opção é utilizar o barco. Há pelo menos um privado a assegurar transporte pago.

Este é mais um exemplo de uma praia complicada de aceder e cada vez mais procurada. Apesar de muito maltratada pelas últimas intempéries, o Calhau da Lapa continua a ser um local escolhido pelos veraneantes, até para pernoitarem nas 'furnas' disponíveis para aluguer.

No momento, o calhau sob a gestão da Associação Desportiva do Campanário carece urgentemente de uma operação de limpeza dos materiais arrastados pelas chuvas e de uma melhoria da acessibilidade por mar através do desassoreamento e da recuperação do cais.

Luís Drumond, presidente da Associação Desportiva de Campanário, alerta também para a necessidade de recuperação das veredas do Paço e da Vigia, este último um acesso actualmente intransitável.

"Julgo que o mais importante será a remoção do antigo vazadouro do massapez na linha de água da Ribeira do Campanário que tem causado destruição e descaracterização deste paraíso", acrescenta Drumond.

O líder da AD Campanário dispensa a construção de acessos para automóvel, dado o impacto no meio natural, mas sugere ao Governo que estude a viabilidade da construção de um teleférico.

Outra das reivindicações da AD Campanário passa pela classificação do núcleo do Calhau da Lapa como Património Cultural de Interesse Regional.

Areia preta "fascina" turistas
Ao contrário do Calhau da Lapa, a Praia da Laje, no Seixal, dispensa mais infra-estruturas. O complexo balnear tem os equipamentos mínimos e a meta, diz Valter Correia, é assegurar sempre as características naturais da praia.

O líder da Câmara do Porto Moniz adianta que esta é uma praia calma e que "fascina" os turistas pela tonalidade negra da areia. "É a autenticidade deste espaço que agrada quem cá vem, por isso acho que se deve pensar muito bem nas praias artificiais e na sua cor", alerta o autarca.

A Laje, tal como os espaços atrás referenciados, é visitada por um público muito específico, pouco importado com o conforto infra-estrutural, bastante dado ao sossego e que dispensa vigilância (nadadores-salvadores).

"De facto, falta a vigilância nas Lajes, mas esse é um investimento incomportável neste momento", afirma Valter Correia.

Não muito do longe da Praia da Laje, as piscinas naturais do Seixal são outra das praias onde a afluência não vai além, segundo o autarca, das 40 pessoas no pico do Verão.

"São duas piscinas lindíssimas com um túnel de lava que é possível ser apreciado durante o nado", descreve Valter Correia.

Há cerca de sete anos, o espaço foi alvo de uma intervenção e dotado de equipamentos para usufruto dos veraneantes. O líder da Câmara do Porto Moniz diz que mais construção no recinto não são aconselháveis. Há espaços, lembra o edil, que ganham pela autenticidade.

Numa Madeira cada vez mais pobre no que a praias naturais diz respeito, os espaços menos infra-estruturados começam a registar um aumento da procura, sinal de que o conforto pode ser preterido quando compensado pela qualidade das águas, o sossego e a beleza paisagística.

DN Madeira

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